Publicados em 1893 pela Laemmert & Cia Editores, estes Contos amazônicos aparecem nos nossos dias como o trabalho mais significativo de Marco Herculano Inglês de Sousa (1853-1918), paraense, embora haja outras obras suas de relevo, tanto literárias como livros sobre Direito, matéria da qual foi professor. A obra inglesiana permanece lida e estudada principalmente no Norte, havendo ainda bons artigos acadêmicos publicados em Minas, e raros em outros estados.
Em Contos amazônicos vemos um grande momento da literatura naturalista do Brasil, uma literatura radical, abnegada em seu esforço por encontrar uma definição do ser humano segundo a natureza quase como se fosse um esforço propriamente científico, em que a relação entre o homem, a terra e a ideia mais ampla da nacionalidade é reivindicada, cheia de expressão, procurando o rumo de uma totalidade. Nacionalista, associado em termos conceituais a escritores combativos como Tobias Barreto, Sílvio Romero e Euclides da Cunha em maior ou menor medida, Inglês de Sousa quis com este livro, entre outras coisas, pôr em evidência um olhar próprio de sua classe social, a classe média urbana do séc. XIX, sobre desdobramentos da sangrenta Cabanagem em comparação com a Revolução Pernambucana, em termos mais éticos, de uma ética revolucionária idealizada, do que propriamente políticos, de pensamento político — aparece então o mestiço brasileiro como o novo homem que as revoluções sempre prometeram. Há também a denúncia, corajosa àquela altura, do modo como ribeirinhos, principalmente indígenas, eram recrutados a força pelo Exército Brasileiro, como "voluntários da Pátria", para irem morrer na Guerra do Paraguai.