COLEÇÃO ACERVO BRASILEIRO

Volume 3,
Contos populares
do Brasil

Contos Populares do Brasil, de Sílvio Romero.

Esta obra de Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (1851-1914) é fundamental para as letras nacionais e para a ideia mais sofisticada de cultura popular. Constituída a partir de uma compilação levada a cabo em Pernambuco, Sergipe e Rio de Janeiro, e também no Pará, com alguns contos colhidos dos índios por Couto de Magalhães, dos quais o autor serviu-se para fins de comparação, é a primeira grande obra etnográfica da literatura brasileira, com um capítulo de origem europeia, um de origem indígena e um afro-brasileiro. Para que se fizesse este volume, recorreu-se à edição portuguesa, cheia de deturpações e erros grosseiros como denunciaria mais tarde o autor, de 1883, pela Nova Livraria Internacional, e duas edições brasileiras, de 1887 e 1907, ambas pela Francisco Alves. Duas obras que tomamos como referência, em maior medida com o objetivo de perceber o alcance do pioneiro esforço romeriano ao longo das décadas, são estes Contos populares do Brasil publicados pela José Olympio Editora em 1954, com apresentação e notas de Câmara Cascudo, e o livro de Monteiro Lobato, Histórias de Tia Nastácia, de 1937, pela editora Brasiliense, em que Nastácia conta às crianças algumas das aventuras e fábulas aqui reunidas.

Da presente edição consta o texto introdutório de Sílvio Romero (que consta igualmente de outra obra sua, Cantos populares do Brasil, de poesia popular), em oposição ao prefácio à edição portuguesa assinado por Teófilo Braga. A introdução de Romero é particularmente interessante, porque revela alguns dos tremendos erros conceituais em que o autor incorreu, por exemplo sobre os rumos da miscigenação do povo brasileiro, com aquele pensamento racialista, tão acentuado e tão distante da realidade, que provinha de certa moda "cientificista": os adeptos diziam reivindicar Darwin sem chegarem de fato a conhecer Darwin. Revela também um recorte da ampla teoria literária de Romero, do mesmo modo repleta de imprecisões e problemas metodológicos embora seja sempre parte do trabalho de um precursor, e que tanto cativou o olhar mais atento de Antônio Cândido, Darcy Ribeiro, e outros, até a atualidade.

Apesar de seus erros, suas grosserias, sua soberba, seus muitos preconceitos, seus exageros, sua escandalosa vaidade, Romero merece uma posição de destaque na cultura brasileira, e é a posição de um verdadeiro pioneiro, o fundador de uma tradição. Afinal, bem poucos têm o mérito de abrir caminho a um Mário de Andrade, a um Marcus Pereira, a um Rolando Boldrin, a um Solano Trindade, a um Luis da Câmara Cascudo, a um Darcy Ribeiro, a uma Inezita Barroso, a um Ariano Suassuna, cada qual a seu modo e em seu momento.

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